Coluna esta escrita para o Selo Brasileiro, sobre Literatura e Filosofia, que contará com o escritor Allan Pitz e convidados
Escolhemos um tema recorrente na literatura para inaugurarmos nossa coluna semanal. O amor.
Maternal, fraternal, entre amantes. Não importa. Explorado por todos os ângulos, é recheio concreto para nossos anseios, e, quiçá diria, para nossos livros.
Nas fórmulas mágicas para um bom tema, lá está em destaque.
Se considerarmos a filosofia, como os gregos a encaravam, a própria busca da felicidade, teremos que colocar o assunto no topo do Olimpo.
Faremos, então, uma breve abordagem, explorando os caminhos sinuosos da realidade e da literatura.
Puro. O amor de mãe é explorado como algo transcendente, próximo ao do próprio Criador. Sacrificado e recompensado. Está no primeiro abraço e beijo desinteressados, na confiança da compreensão de nossas falhas, tropeços. Está na nossa redenção. Seria a chave para sentirmos a plenitude das coisas. Ainda que a psicologia o considere como um mito, incerto, muitas vezes inseguro, a verdade é que ele traduz a própria ambiguidade humana. No Soneto de La Muerte, de Gabriela Mistral, lá se vai a barca com a mãe da poetiza. E quem pode julgar os caminhos de uma mãe, que dedicou-se a amar e cuidar dos filhos? Só Deus o pode fazer.

O tema mais explosivo, no entanto, com certeza, é o amor entre duas pessoas que se entregam além da amizade.
Para este, a literatura e a vida real, desfilam uma série de soluções.

Há também o amor profundo, apaixonado, imortalizado. O amor solução. Aquele que a vida nos brinda como um presente de Deus. Não importa o obstáculo imposto. Ele é a trilha, o caminho. Ele constrói. Não podíamos deixar de lado a belíssima história entre amor e literatura de Elisabeth Barret Browning e seu esposo, o poeta, Robert Browning, que romperam a barreira do não, fugiram do destino a que estavam ordenados e se uniram em versos apaixonados por toda a vida. É de Elisabeth um dos mais belos versos escritos já por uma mulher: Amo-te em cada dia, hora e segundo: À luz do sol, na noite sossegada./E é tão pura a paixão de que me inundo/Quanto o pudor dos que não pedem nada (...) Amo-te até nas coisas mais pequenas./Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,/Ainda mais te amarei depois da morte.

O amor pode ser correspondido, profundo e eterno. Mas há fatores sociais e pessoais que impossibilitam a sua fluência. A dor existe. Está lá. Mas a cumplicidade do sentimento os une pela vida. É um bálsamo. Não podem ser amantes, mas se tornam amigos. São leais. Claros. Límpidos. Esperançosos. Devaneiam com a loucura do amanhã. E se contentam com os mínimos gestos de carinho e de reciprocidade. Há confiança mútua no sentimento depositado no outro coração. Sabem que, se precisarem, podem contar com um ato de redenção. Estariam em Irena e Jacob, os personagens de Apátrida.

Por fim, como julgarmos o amor do outro? No mar de sentimentos que nos rodeiam, tendemos agraciar através destes estereótipos literários os amores que se nos apresentam. Não nos sendo possível compreender a avalanche que se passa dentro da vida alheia, facilmente nos colocamos a catalogar os atos, os resultados e as situações. É melhor ser vítima, que algoz. Ser amado do que amar. Abandonado, do que abandonar. Tendemos a sentar na cadeira da justiça da alma, e darmos a sentença da vida. Talvez, apenas talvez, se Bentinho tivesse dado a oportunidade de Capitu explicar-se, o final seria outro. Mas ele estava convicto da situação.
É por isto que não seria aconselhável empreendermos a dura tarefa de darmos decisão qualquer sobre a verdade que se passa em outro ser humano, ainda que, para isto, sejamos chamados a opinar. Cada pessoa, e só ela e Deus, conhece o porquê de seus atos, a profundidade do que sente, a dor pela qual está passando, os motivos que a levaram a agir desta ou daquela maneira, ainda que os fatos, todos eles, levem a acreditar que foram premeditados em outro sentido.
Para quem acha que literatura não tem qualquer serventia, engana-se. Pelas histórias e palavras podemos passear por sentimentos e lugares nunca vividos, abraçarmos realidades díspares das nossas, compreendermos um pouquinho mais o que se passa no coração humano e do outro.
E com isto, refletirmos sobre a nossa própria vida!
Um grande abraço,
Ana Paula Bergamasco
Excelente, colegas!!!! Parabéns !!!!
ResponderExcluirLi bem rápido, voltarei para me debruçar mais sobre o texto. De antemão, meus parabéns pelo tema e, conforme vi, bem elaborado, verdadeiro, profundo.
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